Já era tarde quando eu resolvi ir dormir. Escovei os dentes,
desliguei o computador, verifiquei a porta e as janelas e andei em direção ao
quarto. Em meio ao silêncio e à escuridão total, pude olhar pra dentro de mim
mesma e de repente me senti tão fraca e vulnerável que não era capaz de dar um
único passo. Deitei ali mesmo, no chão, e as únicas coisas que eu podia ouvir
eram o som abafado do motor do ar condicionado e o tic-tac de um relógio na
cozinha.
Nesse instante fitei o teto por alguns segundos e pensei em
tudo o que havia mudado e ainda estava mudando na minha vida. Eu parecia
indiferente a tudo, mas talvez alguma coisa no meu subconsciente estivesse me
dizendo que essa era a melhor forma de lidar com isso. Eu não estava sendo
justa, todos estavam sofrendo, talvez até mais que eu, pois tinham diversas
outras coisas com que se preocupar.
Tudo o que eu queria era desabafar com alguém. Mas não tinha
o direito de transferir os meus
problemas para os outros. Desejei chorar como um bebê até pegar no sono e acordar
numa manhã fresca e luminosa num mundo onde não existissem medo ou dor. Queria
muito voltar a ser criança e não ter nenhuma preocupação, mas no mundo dos
adultos o impossível existia. Essa era, definitivamente, uma coisa impossível.
De repente eu comecei a pensar em todas as pessoas que vivem
dramas muito maiores que os meus. Muitas delas estavam muito próximas a mim.
Elas sempre mantinham a esperança e, com muita alegria, era capazes de realizar
grandes coisas. Comecei a me sentir mal com isso. Queria ter toda essa força. O
que eu estava fazendo da minha vida? Em que eu vinha empregando toda a minha
energia? E todas as oportunidades que eu tenho tido, por que não as aproveitava
como deveria? E as pessoas que passaram e que ainda estava na minha vida, como
eu as havia tratado até então? Por que eu não podia ser simpática com
elas? E dos mais 700 contatos do
facebook, quantos eu chamava de amigos? Quais deles realmente eram? Como eu
vinha tratando minha família, familiares e parentes? Será que era da forma que
eles mereciam? Que diferença eu fazia na vida das pessoas? E que tipo de legado
eu deixaria para o mundo?
Eu tinha medo das respostas.
Precisava mudar muita coisa em mim. Nada me prendia, mas eu
não me sentia totalmente livre. Era como se algo me impedisse de seguir em frente.
Meu egoísmo me consumia me fazendo desperdiçar tempo, pessoas e oportunidades...
Precisava de ajuda e só havia uma pessoa que poderia me ajudar. Eu já o
conhecia há bastante tempo, mas tinha sido arrogante demais para pedir por
favor.
Duas lagrimas rolaram lentamente pelo meu rosto.
Na cama, tentei dormir desejando com todas as minhas forças
que o amor que Ele havia prometido aliviasse aquele sofrimento e, por fim,
agisse em mim promovendo as mudanças que eu tanto precisava. E quis ter um
pouco daquele amor, para que pudesse emprega-lo em tudo o que eu fizesse e
mudar cada aspecto da minha vida.
Não sei se posso dizer que isso é uma oração. Talvez algumas
vezes a dor e o desespero sejam tão grandes que transforme o ato de orar em um
grande desafio. Nessas horas talvez bastem duas lágrimas, um desabafo e um
sentimento sincero. Nesse caso dizer amém talvez seja apropriado. Amém.
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