quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

E quem e Melanie afinal?

Já que o livro contando sua história corre o risco de nunca ir para o papel e, menos ainda, sair dele. Começo a explicar aqui mesmo que vem a ser essa misteriosa personagem. 
Tudo o que ela tem a dizer hoje é:

"Eu sou um ser humano horrível! Sou egoísta e egocêntrica! Sou como um gafanhoto que consome aquilo que nunca cultivou e nunca está satisfeito. Não sei porque faço isso, deve ser parte da minha própria natureza. Talvez eu deva mudar, mas meu orgulho impede. Enquanto isso, dane-se!"

Um dia todos vão entender, mas enquanto isso eu vou lidando com ela e tentado desvendar, esse ser. 
Beijos com glitter e até a próxima. 
ps.: prometo que será algo melhor.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Duas vidas, uma festa

Manoela odiava o carnaval. Ela não era ruim da cabeça nem doente do pé, mas se irritava toda vez que ligava a tv e o assunto era esse, odiava ligar o rádio e ouvir marchinhas e sambas de enredo, entrar numa rede social e ver todas as fotos e comentários sobre a "maldita festa da carne". O que falar então dos blocos de rua? Absurdo! Ruas fechadas, foliões barulhentos, sujeira, trio elétrico, bandas, confete, serpentina... Uma baderna total, barulho, tumulto e mais tumulto! Como a prefeitura poderia permitir uma coisa daquelas? Pra onde foi o direito de ir e vir do cidadão?
 Eram "só" quatro dias. Os quatro piores dias do ano. Mal começava um novo ano e Manoela já entrava em desespero, logo chegaria fevereiro e não se falaria mais em outra coisa. Nos últimos anos ela preferia tirar férias nesse mês. Enquanto os turistas chegavam à Cidade Maravilhosa para curtir a folia, Manoela ia no sentido oposto fugindo de toda aquela confusão.
Mas nem sempre foi assim, quando era pequena chegava até a gostar do carnaval. Vestir uma fantasia e ser quem quisesse ser era um sonho para qualquer criança. Mas um coração partido aos 15 anos fez com que a alegria dessa festa se transformasse em dor. O primeiro amor de Manoela tinha chegado ao fim e, assim, teve início o ódio pelo grande culpado de uma primeira desilusão, o Carnaval.
Pelo rapaz ela já não lamentava, outros romances surgiram e se foram como um carro alegórico que invade a avenida. Mas o carnaval, esse sim, era o terrível vilão de toda história. Se ele simplesmente não existisse, as pessoas não teriam um pretexto para fazer coisas que não fariam em condições normais, partir um coração era só uma das coisas que se permitiam nesse efêmero período de suspensão das leis morais. 
E lá estava Manoela em seu vigésimo quinto sábado de carnaval, debruçada no parapeito da varanda do seu apartamento, observando à distância a concentração do primeiro bloco da rua. Naquele ano muitos funcionários da empresa pediram férias em fevereiro e Manoela não havia viajado, teria que se contentar em passar o carnaval assistindo alguns DVDs em casa mesmo. Ela não pretendia sair e se quisesse fazê-lo de carro, dificilmente conseguiria. Mas precisava ir ao mercado comprar algumas besteiras para  beliscar nesses quatro dias e teve que ir a pé. Ainda contrariada de ter que passar no meio daquela pequena multidão, entrou no elevador desejando que o tempo fechasse nos próximos dias. Os termômetros do Rio marcavam 40 graus e não havia nenhum sinal de nuvem  céu. Ótimo, que cenário clichê!
Distraída com os seus lamentos ela nem percebeu quando esbarrou num folião fantasiado de marinheiro que vinha no sentido oposto. Ambos foram parar no chão e Manoela vermelha estava prestes a explodir. "Não olha por onde anda?!?!"
O rapaz, sem graça, não cansava de se desculpar, levantou-se e ajudou-a a se levantar também. Perguntou se ela estava bem e se desculpou mais uma vez. Aí veio a troca de olhares, por alguns segundos não havia mais ninguém naquela rua, Manoela tinha até esquecido que era carnaval. O Marinheiro sorriu. Era o sorriso mais bonito que ela já tinha visto. Só voltou à realidade quando ele perguntou:
- Onde está a sua fantasia? - Fantasia? Ah claro, o bloco. Mas ela não tinha fantasia, não estava no bloco. Deu um sorriso amarelo e ficou parada enquanto uma multidão ocupava o espaço entre eles levando o Marinheiro-folião. Ele ainda olhou para trás umas duas vezes até sumir de vista no meio de toda aquela gente.
Manoela estava prestes a seguir o seu caminho quando uma senhorinha que assistiu a tudo de longe se aproximou dela com os olhos cheios de lágrimas. "Amos esses encontros inusitados que só acontecem nessa época!  Eu e Joaquim nos conhecemos no carnaval. Já fazem 54 anos mas eu ainda me lembro com clareza daquele dia, eu estava vestida de colombina e ele era o pierrô mais lindo que eu já vi. Já fazem dois anos que ele foi participar do baile celestial, mas no carnaval eu sinto como se ele ainda estivesse aqui. Mas você não pode perder tempo com a história de uma viúva. Anda toma o meu cocá, uma moça bonita não pode ficar sem fantasia." Colocou nela o adereço, deu-lhe um abraço e praticamente empurrou a jovem para o meio da multidão.
Se Manoela encontrou o "seu" Marinheiro e viveram felizes para sempre, não importa muito. Essa história é sobre uma garota com uma fantasia emprestada, num sábado de carnaval se entregando à alegria, ao brilho e à cor. Naquele momento ela estava feliz e não odiava mais o carnaval. Manoela não pensava mais no que havia acontecido há 10 anos, tudo o que ela queria era aproveitar aqueles dias de folia desejando que nunca chegasse a quarta-feira para que tudo virasse cinzas outra vez. 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Uma oração nada convencional


Já era tarde quando eu resolvi ir dormir. Escovei os dentes, desliguei o computador, verifiquei a porta e as janelas e andei em direção ao quarto. Em meio ao silêncio e à escuridão total, pude olhar pra dentro de mim mesma e de repente me senti tão fraca e vulnerável que não era capaz de dar um único passo. Deitei ali mesmo, no chão, e as únicas coisas que eu podia ouvir eram o som abafado do motor do ar condicionado e o tic-tac de um relógio na cozinha.

Nesse instante fitei o teto por alguns segundos e pensei em tudo o que havia mudado e ainda estava mudando na minha vida. Eu parecia indiferente a tudo, mas talvez alguma coisa no meu subconsciente estivesse me dizendo que essa era a melhor forma de lidar com isso. Eu não estava sendo justa, todos estavam sofrendo, talvez até mais que eu, pois tinham diversas outras coisas com que se preocupar.

Tudo o que eu queria era desabafar com alguém. Mas não tinha o direito de  transferir os meus problemas para os outros. Desejei chorar como um bebê até pegar no sono e acordar numa manhã fresca e luminosa num mundo onde não existissem medo ou dor. Queria muito voltar a ser criança e não ter nenhuma preocupação, mas no mundo dos adultos o impossível existia. Essa era, definitivamente, uma coisa impossível.

De repente eu comecei a pensar em todas as pessoas que vivem dramas muito maiores que os meus. Muitas delas estavam muito próximas a mim. Elas sempre mantinham a esperança e, com muita alegria, era capazes de realizar grandes coisas. Comecei a me sentir mal com isso. Queria ter toda essa força. O que eu estava fazendo da minha vida? Em que eu vinha empregando toda a minha energia? E todas as oportunidades que eu tenho tido, por que não as aproveitava como deveria? E as pessoas que passaram e que ainda estava na minha vida, como eu as havia tratado até então? Por que eu não podia ser simpática com elas?  E dos mais 700 contatos do facebook, quantos eu chamava de amigos? Quais deles realmente eram? Como eu vinha tratando minha família, familiares e parentes? Será que era da forma que eles mereciam? Que diferença eu fazia na vida das pessoas? E que tipo de legado eu deixaria para o mundo?

Eu tinha medo das respostas.

Precisava mudar muita coisa em mim. Nada me prendia, mas eu não me sentia totalmente livre. Era como se algo me impedisse de seguir em frente. Meu egoísmo me consumia me fazendo desperdiçar tempo, pessoas e oportunidades... Precisava de ajuda e só havia uma pessoa que poderia me ajudar. Eu já o conhecia há bastante tempo, mas tinha sido arrogante demais para pedir por favor.

Duas lagrimas rolaram lentamente pelo meu rosto. 

Na cama, tentei dormir desejando com todas as minhas forças que o amor que Ele havia prometido aliviasse aquele sofrimento e, por fim, agisse em mim promovendo as mudanças que eu tanto precisava. E quis ter um pouco daquele amor, para que pudesse emprega-lo em tudo o que eu fizesse e mudar cada aspecto da minha vida.

Não sei se posso dizer que isso é uma oração. Talvez algumas vezes a dor e o desespero sejam tão grandes que transforme o ato de orar em um grande desafio. Nessas horas talvez bastem duas lágrimas, um desabafo e um sentimento sincero. Nesse caso dizer amém talvez seja apropriado. Amém.